sexta-feira, 20 de julho de 2007
Bug's life
Eu estive com alguns problemas de postagem, do tipo que não posta por qualquer problema esquisito. Os texto, como a parte dois, virão assim que o bug for resolvido. por enquanto só deixo a mensagem que o ACM morreu (não confirmado, mas certamente rezando por isso).
segunda-feira, 9 de julho de 2007
noite e fim - parte 1
Os passos perdiam a cadencia com a distancia. Não era apenas nervosismo da corrida, mas o ar também já achava dificuldade de entrar nos pulmões. O ar sabia que havia uma coisa de errado, os pulmões não deviam estar ali, mas a noite não havia começado normal de qualquer jeito e o excesso de realidade que tentava se forçar sobre aquele corpo lhe garantia uma aura levemente turquesa que nenhum outro gás haveria de negar que era estranho. O ar esperou que o movimento parasse antes de retornar ao seu estado de repouso, mas isso só se deu depois que um segundo vulto, algo que até mesmo o neon teria de aceitar que estava ali, apesar de que, pensando bem no assunto, ele não conseguia se lembrar exatamente o que havia passado.
Leandro corria como um atleta de “Le Parkour”, não por que ele quisesse se distanciar do que o estava perseguindo, mas porque ele sabia que não poderia ser pego naquele momento. O corredor longo e reto não apresentava muitos obstáculos, sendo estes na maioria sacos de lixos das lojas de peixes, que saltavam da parede fazendo o pouco largo corredor cada vez mais estreito, e varais de madeira, resquícios de construções inacabadas e um eventual gato passante. A Beco do Tempo era um desses buracos que existem em qualquer lugar entre prédios, com a diferença que todas as obras arquitetônicas haviam inúmeras vezes sido construídas e demolidas, todas as vezes umas sobre as outras, criando muralhas colossais que cercavam dois dos lados de todo o beco. O chão era uma espécie de compensado de areia, como se alguém cuidadosamente tivesse ladrilhado grão por grão. Leandro olhou pra trás. A figura ainda o estava seguindo.
- E ele nem corre – seu cérebro tentava se revoltar contra toda aquela situação ridícula – ele tem todo o tempo do mundo, eu só preciso cansar ou (pula barril de anchovas) tropeçar em algo.
- Ou eu preciso apenas soprar.
A figura se aproximava de forma lenta, mas contínua. Porém som nenhum saíra de sua boca. Era como se o universo se reorganizasse pra que o que quer que fosse dito já tivesse sido dito e a pessoa se lembrava da resposta apenas depois da pergunta. Um gato preto, malhado em cinza, cruzou o beco logo a frente do Leandro.
O Beco do Tempo também era famoso por duas outras razões. Ele não tinha um fim conhecido, porque ninguém voltava dele. Vivo, ao menos. Os que habitavam em seu interior se conformavam em sempre em irem numa única (curiosamente a mesma) direção ou viver num pequeno local, onde se conhecesse a vizinhança.
A outra é o fato de que sempre é noite no Beco. Mas também havia o dia, pequenos períodos quando a luz do sol era capaz de passar sobre as paredes e refletir uma vaga luminosidade para baixo. E havia o Dia, iluminado pela lua e de estrelas que já haviam morrido centenas de milhares de anos atrás, mas sua luz ainda vagava pelo universo.
E era sobre isso que Leandro pensava no momento. Dentro do beco, a luz das estrelas era morta e sem ela sua deusa protetora não seria capaz de intervir. Claro que toda a situação era culpa dela, mas essa também era sua razão de existir.
- Você já me cansou. Vamos acabar logo com isso – teria dito a figura – que eu tenho o que fazer.
Num movimento facial do vulto, que em muitas raças que tem cartilagem demais no rosto seria considerado um beijo, todos os músculos da perna do pseudo-atleta ficaram dormentes. Num ultimo esforço, Leandro ainda se puxa com os braços por entre os destroços antes de ser alcançado pelo vulto.
- você não pode fugir. Não tinha chances.
- eu ainda tenho um trunfo – retrucou, moribundo
- a regra é clara. Você me enganou 3 vezes, ainda que por covardia. Isso lhe dava o direito de escolher quando você poderia partir.
- eu ainda tenho um trunfo.
- mas você tinha que abdicar o seu direito em relação a ela, e o destino fez que vocês escolhessem morrer na segunda feira passada. Azar o se...
- EU AINDA TENHO UM TRUNFO. SERÁ QUE NÃO CONSEGUE OUVIR NADA DO QUE EU FALO.
A Morte ficou chocada por um instante. Era incomum alguém se gabar pra ela, ao menos não nesses momentos. Todos imploravam, negociavam, xingavam mas nunca se gabavam. Todavia o instante foi curto o suficiente para que ninguém notasse, e respondeu.
- Ela não virá.
- Virá sim – retrucou Leandro enquanto se apoiava contra a parede, ficando levemente sentado.
- a luz aqui é apenas memória que reside pelo caminho. Ela não pode ouvir seu apelo e você não pode chamar-la pelo seu nome. Além do mais, foi ela que te trouxe até aqui e o sacrificou, e essa foi sua Ironia.
- eu não preciso chamar pelo nome dela – um sorriso abriu de orelha a orelha em seu rosto – você trará ela aqui.
- E por que eu a chamaria depois de tudo?
- é porque, depois de tudo que fez pra me pegar em todos esses anos, eu escapar seria a Sua Ironia.
- Ela não ousaria, os deuses não tem direito em meu terreno. Eu sou parte da existência. Nenhum deus se arrisca a enfrentar a morte por um mortal biodegradável. – encerrou a morte, enquanto erguia uma ampulheta e desatarraxava a tampa, pronta a despejar a areia que cruzará o centro do vidro da dupla pirâmide invertida sobre Leandro.
- E essa,... essa é a minha ironia – disse um voz levemente amarga e igualmente doce que emergia de uma das muitas portas na parede. Os dois no corredor voltaram os olhos pra ela.
Errado, certamente a algo de errado hoje à noite, diria o ar se ele tivesse como dizer alguma coisa...
Leandro corria como um atleta de “Le Parkour”, não por que ele quisesse se distanciar do que o estava perseguindo, mas porque ele sabia que não poderia ser pego naquele momento. O corredor longo e reto não apresentava muitos obstáculos, sendo estes na maioria sacos de lixos das lojas de peixes, que saltavam da parede fazendo o pouco largo corredor cada vez mais estreito, e varais de madeira, resquícios de construções inacabadas e um eventual gato passante. A Beco do Tempo era um desses buracos que existem em qualquer lugar entre prédios, com a diferença que todas as obras arquitetônicas haviam inúmeras vezes sido construídas e demolidas, todas as vezes umas sobre as outras, criando muralhas colossais que cercavam dois dos lados de todo o beco. O chão era uma espécie de compensado de areia, como se alguém cuidadosamente tivesse ladrilhado grão por grão. Leandro olhou pra trás. A figura ainda o estava seguindo.
- E ele nem corre – seu cérebro tentava se revoltar contra toda aquela situação ridícula – ele tem todo o tempo do mundo, eu só preciso cansar ou (pula barril de anchovas) tropeçar em algo.
- Ou eu preciso apenas soprar.
A figura se aproximava de forma lenta, mas contínua. Porém som nenhum saíra de sua boca. Era como se o universo se reorganizasse pra que o que quer que fosse dito já tivesse sido dito e a pessoa se lembrava da resposta apenas depois da pergunta. Um gato preto, malhado em cinza, cruzou o beco logo a frente do Leandro.
O Beco do Tempo também era famoso por duas outras razões. Ele não tinha um fim conhecido, porque ninguém voltava dele. Vivo, ao menos. Os que habitavam em seu interior se conformavam em sempre em irem numa única (curiosamente a mesma) direção ou viver num pequeno local, onde se conhecesse a vizinhança.
A outra é o fato de que sempre é noite no Beco. Mas também havia o dia, pequenos períodos quando a luz do sol era capaz de passar sobre as paredes e refletir uma vaga luminosidade para baixo. E havia o Dia, iluminado pela lua e de estrelas que já haviam morrido centenas de milhares de anos atrás, mas sua luz ainda vagava pelo universo.
E era sobre isso que Leandro pensava no momento. Dentro do beco, a luz das estrelas era morta e sem ela sua deusa protetora não seria capaz de intervir. Claro que toda a situação era culpa dela, mas essa também era sua razão de existir.
- Você já me cansou. Vamos acabar logo com isso – teria dito a figura – que eu tenho o que fazer.
Num movimento facial do vulto, que em muitas raças que tem cartilagem demais no rosto seria considerado um beijo, todos os músculos da perna do pseudo-atleta ficaram dormentes. Num ultimo esforço, Leandro ainda se puxa com os braços por entre os destroços antes de ser alcançado pelo vulto.
- você não pode fugir. Não tinha chances.
- eu ainda tenho um trunfo – retrucou, moribundo
- a regra é clara. Você me enganou 3 vezes, ainda que por covardia. Isso lhe dava o direito de escolher quando você poderia partir.
- eu ainda tenho um trunfo.
- mas você tinha que abdicar o seu direito em relação a ela, e o destino fez que vocês escolhessem morrer na segunda feira passada. Azar o se...
- EU AINDA TENHO UM TRUNFO. SERÁ QUE NÃO CONSEGUE OUVIR NADA DO QUE EU FALO.
A Morte ficou chocada por um instante. Era incomum alguém se gabar pra ela, ao menos não nesses momentos. Todos imploravam, negociavam, xingavam mas nunca se gabavam. Todavia o instante foi curto o suficiente para que ninguém notasse, e respondeu.
- Ela não virá.
- Virá sim – retrucou Leandro enquanto se apoiava contra a parede, ficando levemente sentado.
- a luz aqui é apenas memória que reside pelo caminho. Ela não pode ouvir seu apelo e você não pode chamar-la pelo seu nome. Além do mais, foi ela que te trouxe até aqui e o sacrificou, e essa foi sua Ironia.
- eu não preciso chamar pelo nome dela – um sorriso abriu de orelha a orelha em seu rosto – você trará ela aqui.
- E por que eu a chamaria depois de tudo?
- é porque, depois de tudo que fez pra me pegar em todos esses anos, eu escapar seria a Sua Ironia.
- Ela não ousaria, os deuses não tem direito em meu terreno. Eu sou parte da existência. Nenhum deus se arrisca a enfrentar a morte por um mortal biodegradável. – encerrou a morte, enquanto erguia uma ampulheta e desatarraxava a tampa, pronta a despejar a areia que cruzará o centro do vidro da dupla pirâmide invertida sobre Leandro.
- E essa,... essa é a minha ironia – disse um voz levemente amarga e igualmente doce que emergia de uma das muitas portas na parede. Os dois no corredor voltaram os olhos pra ela.
Errado, certamente a algo de errado hoje à noite, diria o ar se ele tivesse como dizer alguma coisa...
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